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no contra-tempo do mundo

Atualizado: 6 de ago. de 2022



sinto que estou no contra-tempo do mundo. todo aquele papo de “sairemos melhores dessa pandemia”, parece que não era verdade, era cilada. tenho a sensação de que desde que o mundo “voltou”, ninguém parou. a dinâmica maluca das redes sociais, o desespero por dinheiro, querer recuperar 2 anos que se passaram a qualquer custo, enfim, tenho a sensação de que está tudo mais acelerado do que nunca. e a pandemia continua.


as pessoas foram afrouxando os cuidados, os eventos foram voltando & minha filha nasceu. quando a pandemia parecia estar passando, em pleno dia 24 de novembro de 2021 um novo mundo começava pra mim. olá, puerpério. olá, pandepério.


virar mãe é perder a noção do tempo. é não caber na medida do relógio, é confundir a cronologia das coisas, é transbordar de amor e de cansaço. é ter que dar conta do indizível. é não dar conta, sobretudo. vivo o meu puerpério enquanto o mundo tenta recuperar o tempo perdido. eu sou o próprio tempo perdido. sou o próprio tempo ganhado. sou o próprio tempo. ou não sou nada disso.


ter uma bebê em casa é renascer a todo instante. é exercitar constantemente a presença ~ quando me perco dela, minha filha percebe e todos aqui em casa nos perdemos. é piscar e ver que um fio de cabelo cresceu, um dente brotou, um gesto novo que até ontem não aparecia, agora está aqui. acho que nunca me senti tão viva, tão criativa, tão cheia de desejos.


não que seja fácil. não é nem um pouco. ter uma bebê em casa é também ter muitas privações. é ter saudade de uma época que acabou. é toda hora ter que lidar com a frustração de não concluir aquilo que foi planejado. é perder o rumo das programações. é a capacidade de improvisar e se refazer. toda toda toda hora.


enquanto aprendo a ser mãe, estou grávida de novo. calma, gente. estou falando de um disco. tenho um disco novo no forno. sendo feito como a minha vida anda sendo ~ feita, refeita, remendada, reconstruída. alguns tropeços, alguns saltos imensos, algumas frustrações, muitos desejos. o sonho de uma vida longa & próspera & uma dança infinita com esse trabalho. encontros sendo firmados e reconhecidos. um disco que me faz olhar no espelho e me perceber tão diferente, tão igual.


toda hora que rolo o feed do instagram sinto que estou demorando demais para mostrar esse trabalho pra vocês. ledo engano: em 2 anos vivemos uma pandemia que ainda nem tivemos tempo de assimilar, fiquei grávida, tive minha filha Cora, gravei um disco, estou aprendendo a ser Julia outra vez. respiro fundo e lembro que o tempo é circular. e vou aos poucos abraçando o meu lugar. esse disco está no forno. e virá!


fecha os olhos comigo e lembra: estamos vivos. e isso é tudo. e isso é muito, diante de tudo o que passamos. de tudo o que estamos passando.


fica aquele sentimento: não tenha medo de perder tempo.

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